sexta-feira, 30 de maio de 2008

Meriva Preta

(clique na imagem pra ver maior.)

Um conto Gonzo Ilustrado com adjetivos demais.




Aqui de novo, tanto tempo depois e por um segundo, um ano nunca passou. Brincadeira... a mulherada se perdendo controladamente, ninguém come ninguém. Na minha frente uma menina acha que pode tudo. Balança suas ancas e levanta os braços, dedo médio em riste.

“Pau no teu cu, teu merda”

É, o Dj tava uma merda. Àquela altura, já um tanto acelerado, as paredes se tornaram opressivas e só existia a cumplicidade casual dos amigos e alguns biquinhos rosas, uns cínicos, outros sem noção. Algumas franjinhas, várias tatuagens, a mesma merda de sempre.

“Parece ensaiado”, me confessam. As “nights” pra eles não fazem mais sentido, uma tentativa de ganhar fôlego pra engolir mais uma semana. Caralho, como sofremos. Nós, as crianças ricas e bem alimentadas. O que esperam de nós?

Sei lá que horas são, mais da metade dos rostos de sempre desistiram. Nós estávamos apenas começando.

Ganhamos a noite. Com o cérebro às cambalhotas acelero a meriva preta pra longe da música ruim e da paisagem de flores estéreis. Os velhos amigos, engasgados nas risadas atrasadas, quase sofrem. “- Faz seis meses que não como ninguém”, “- Eu também”. Não digo nada. Caralho, pior que admiro esses putos. Sinto vergonha de estar feliz. Eu, o agente-duplo. O Gonzo mais careta do ano.

Pedalando. Na meriva Preta. Da minha mãe

Meto o pé pela Jardim-Botânico, tão bonita à essa hora, sem tanto pela-saco passeando. Fora nós. A única consciência que tenho de mim mesmo é o retrovisor e as hienas. Tenho quatro rodas e algumas antenas. Reduzo a marcha e encaixo na curva bonito pra um cara doidão. Eles estão orgulhosos

O pior de tudo é que somos caras legais. De maneira alguma representantes típicos de nosso meio, se você olhar com cuidado. Meditamos. Não acreditamos em nenhum deus que não dança. Na mescla, mescalina e haxixe, mas nada de pó nem putas. Pelo menos nenhuma pra mim. Parei com o álcool em excesso porque esfolava meu pau.

Marrom. Amor marrom na esbórnia carioca. Meu coração descama e só vejo luz. Faz cócegas, mas ta tudo bem. Chegaremos ao amanhã se nada terrível acontecer. Eu me comporto e me esquivo, agarro tudo à que anseio, mas carrego meus afetos bem perto do peito, esfrego, pra soltar o cheiro. Pra abrir um buraco e puxar uma corda. Quero amarrar no lustre e balançar do teto. Depois que começa, tem que ir até o fim.

O Bunda-lelê mais poético que já existiu.

Um comentário:

Manuela Cantuária disse...

hahaha, acho que lembro desse dia, ein